domingo, 6 de novembro de 2011

INTERNACIONAL 1 - SINFONIAS INDUSTRIAIS DE CINEMA

josé juva

Eppur si muove


Movimento, ato de mover ou de se mover. Entre outras coisas, os filmes do programa Internacional 1 – Sinfonias Industriais de Cinema, da IV Janela Internacional de Cinema do Recife, compartilham alguns sentidos possíveis evocados pelo vocábulo movimento. Os deslocamentos de um homem, flanando pela urbe e se misturando às máquinas de um parque de diversões; as crianças se espalhando pelas ruas da cidade, criando jogos e rituais; uma família se preparando para realizar uma noite inesquecível com uma discoteca móvel; uma jovem perambulando através dos sonhos e dos metrôs; um suave deslizar pelos espaços de uma construção em ruínas, englobando simultaneamente múltiplos elementos metereológicos.

As dezenas de crianças que tomam conta dos sítios da cidade, em New London Calling, de Alla Kovgan, criam uma atmosfera permeada pelo lúdico. Não vemos nenhum carro em trânsito, nenhum sujeito correndo atrasado para o trabalho, ninguém preocupado atravessando os cenários da cidade. Apenas um turbilhão multicolorido de crianças e adolescentes se divertindo, criando e recriando relações entre si e entre eles e o ambiente urbano. O espectador talvez sinta vontade, um tanto nostálgica, de fluir entre os personagens para despreocupadamente divertir-se, instaurando outras possibilidades de vivência para o corpo na trama da cidade. Já em Enterprise, de Mauricio Quiroga, acompanhamos a trajetória de um sujeito carregando um boneco maior que ele mesmo, ganhando ruas e esquinas, indo ao encontro de um parque de diversões. Com uma fotografia em preto e branco, uma montagem de som alucinante, o filme explora as fusões entre o corpo humano e a máquina, os arrebatamentos provocados pela fricção entre os movimentos humanos e as vertigens das velocidades mecânicas. Podemos fazer associações com outras realizações, como o Ballet Mécanique, de Fernand Léger, por exemplo.

Electric Light Wonderland, de Susanna Wallin, apresenta uma família (um pai e dois filhos) se preparando para a realização de sua noite de discoteca móvel, com a profusão de luzes e formas. Aqui o movimento diz respeito tanto ao exercício de preparação da festa, quanto aos ritmos internos dos garotos do filme, mergulhados numa jornada interior evocando as falas da festa por vir. O filme sugere mais coisas que as explicita e é na maior parte do tempo monótono. Movimenti Di Um Tempo Impossibile, do coletivo italiano Flatform, é um delicado registro de invenção do espaço de uma ruína com uma temporalidade atravessada simultaneamente por neve, chuva, neblina e vento. Os quatro elementos são contemporâneos deste tempo mítico, surreal, lírico, costurados aos movimentos musicais da trilha, um quarteto de Maurice Ravel. O filme é uma fantasia sutil, apontando para o terreno onírico de apreensões mágicas da vida.

O trânsito confuso entre memória, sonho e realidade é a carta na manga de Cat Effekt, da dupla Gustavo Jahn e Melissa Dullius. O filme arremessa o espectador numa torrente de imagens delirantes, com as quais não é possível constatar hierarquias entre o mundo da vigília e do sonho. A jovem protagonista deambula por Moscou, se entrega a certos acontecimentos magnéticos, que se repetem, e se recriam com pequenas modificações. Cat Effekt é uma invenção lisérgica interessada numa percepção não planificada dos fluxos da vida. Pode jogar o espectador numa terra que este já tenha visto em sonho ou, ainda, ser uma porta aberta para as sensações multicoloridas vividas num chá de cogumelos das cinco horas da tarde.

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